O povo ka’apor e sua língua de sinais
O povo Ka’apor vive na Amazônia Maranhense, em uma área de floresta chamada Terra Indígena Alto Turiaçu. Lá, além da língua falada ka’apor, existe também uma língua de sinais própria, usada por pessoas surdas e ouvintes.
Atualmente, cerca de 17 pessoas surdas usam a língua de sinais Ka’apor, mas ela não é exclusiva delas. Muitas pessoas ouvintes também a usam, especialmente nas cinco aldeias onde há surdos. Quando uma pessoa surda aparece, é comum que os ouvintes usem sinais para se comunicar.
Nem todos são fluentes, mas muitos se dedicam a se comunicar bem, especialmente quem cresceu perto de pessoas surdas.
Essa língua de sinais faz parte de uma região multilíngue. Nas aldeias, ouve-se ka’apor falado, português, awá-guajá e até algumas palavras e cantos da língua tembé. Mas os surdos, em geral, são monolíngues, pois só usam a língua de sinais.
A pessoa surda mais antiga conhecida se chamava Inambu e nasceu por volta de 1890. Não sabemos se a língua de sinais já existia antes dela. Por isso, é possível que a língua de sinais ka’apor tenha uma longa história, assim como a Libras, que começou a ser usada em 1856.
A língua de sinais ka’apor foi uma das primeiras a ser mencionada no Brasil, em 1966, por James Kakumasu. Depois, a linguista Lucinda Ferreira, a primeira brasileira a estudar línguas de sinais, escreveu artigos sobre ela, comparando com a Libras (a Língua Brasileira de Sinais).
Mesmo com algumas publicações já feitas, essa língua ainda é pouco descrita. Alguns estudos já abordaram os sinais para cores, a negação e a marcação do tempo. Por exemplo, enquanto na língua falada ka’apor não existem palavras para cores, na língua de sinais há formas visuais para expressar isso, apontando e fazendo sinal antes do apontament, o que já indicam que estão dizendo “estou falando da cor do objeto, não do objeto em si”.
Outro ponto notável é o jeito de marcar o tempo. Na língua de sinais, o tempo pode ser contado por quantas noites a pessoa dormiu (que é uma contagem similar aos nossos “dias”), pelas mudanças de luz (manhã, tarde, noite), ou pela posição do sol e da lua. Isso também aparece na fala, o que mostra que a conceitualização de tempo é basicamente a mesma nas duas línguas do povo ka’apor, sinalizada e falada.
Alguns gestos usados na fala também aparecem como sinais na língua de sinais. Por exemplo, o gesto para dizer “não” é o mesmo entre falantes e sinalizadores. Assim, as duas línguas, de um lado, a falada com os seus gestos e, de outro, a de sinais estão muito ligadas.
Narrativas Pessoais
Abaixo disponibilizamos duas narrativas pessoais, com legenda em português e tradução para libras.
O vídeo anotado pode ser aberto no ELAN usando o arquivo eaf.
Glossário
É possível consultar abaixo uma amostra do vocabulário da língua de sinais ka’apor.
Os sinais são exibidos em foto e/ou gif e alguns são acompanhados de um vídeo que apresenta o sinal no contexto de um enunciado.
- A
- B
- C
- D
- E
- F
- G
- H
- I
- J
- K
- L
- M
- N
- O
- P
- Q
- R
- S
- T
- U
- V
- X
- Z